De volta para a educação ou versos contra a militarização

Charge: Latuff, 2014

 

Se de cordel tu gosta

Agora vou recitar

É sextilha na escola

E a questão tu vai matar

O assunto dessa prosa

É intervenção militar

 

Prometendo disciplina

E respeito ao professor

Foram lá chamar os tiras

Mas nenhum orientador

Fosse lá na medicina

Era greve dos “dotor”

 

Mas parece que ultimamente

Muita gente sem noção

De maneira inconsequente

Vem falar de educação

E já temos quociente:

A escola da exclusão!

 

Quem é branco não precisa

Amarrar o seu cabelo

Quem é negro toma pisa

O Apartheid vem primeiro

Preconceito que se ensina

Com um jeitinho brasileiro

 

Mãos pra trás, vai cabisbaixo

Pra passar pelo portão

O Mandela grafitado

Já mandaram pra prisão

“É melhor do outro lado”

Informou o capitão!

 

Professor que sou de escola

Um profissional do ensino

Sei que a coisa não melhora

Se filmar cantarem o hino

E mandar para um fanático

Que nomearam ministro

 

E a farda, muito cara,

Até hoje não se tem,

Calça jeans, camisa clara,

Lembra até a FUNABEM

É a farda improvisada

Pra não ser um Zé Ninguém

 

O calçado, não se sabe

Como é que vão arrumar

Tem corrente no whats app

Suplicando por um par

“Pode ser kichute ou Nike,

Deus te ajude” vão falar

 

A pulseira é uma ou nada

Cuidado pra não abusar!

Ontem uma desavisada

Com duas no braço a andar

Esqueceu a tabuada

E uma teve que tirar

 

Só um ponto de luz no brinco

Pra não chamar a atenção

O aprendizado é reduzido

Se na sala uma “sem noção”

Quer mostrar que existe brilho

Onde se cultua a escuridão

 

E aluno vem daí:

Ser sem luz, a tábua rasa

Que só deve repetir

Inventaram o subpraça

Se não aprende a competir

Multiplica sua desgraça

 

Outra regra irracional

É fecharem o portão

Pro milico isso é normal

Pro discente é outro não

O “pulinho na regional”

É desculpa de direção

 

Estudantes com transtorno

Aqueles que são preteridos

Terão primeiro um esporro

Depois serão transferidos

O IDEB é o retorno

Para um sistema militar falido

 

Para os que laudo não tem

É melhor providenciar

Impossível ficar sem

Na cultura militar

Não é pessoa de bem

Aquela que não quer estudar

 

E alguém que estudar não quer

Muitas coisas podem ser

Se ela for PNE

Militar não vai querer

Mas se o médico diz que é

“É frescura”, vão dizer

 

Rafael Pullen Parente

Que trabalhou no Rio

De forma intransigente

Como nunca antes se viu

Pegou as escolas da gente

E vendeu por 200 mil

 

Logo ele que pesquisa

TICs e suas utilidades

Desde 2010 não atualiza

O seu currículo lattes

Vem dizer que acredita

Nessas falsas facilidades

 

No leilão, no último banco,

Quieto sem nada falar

Um sujeito meio Rambo

Esperou pra arrematar

Pintou o muro de branco

E nele: Polícia Militar

 

E falou de seu jeito:

“A jeripoca vai piar!

Posso fechar o Conselho

Professor vai se ferrar

Sem abono ou atestado

E fim do Calendário Escolar”

 

Sobrou pra festa junina

Pro intervalo que desestressa

E foi aí que o coxinha

Que se acha classe média

Percebeu que foi pra chincha

Que era só mais uma peça

 

“Mas isso é palhaçada!”

Disse o docente eufórico

“A ordem está assinada

Inclusive pelo Pedagógico”

Se é gestão compartilhada

Está aí o diagnóstico

 

Violência nas escolas

É ruim, um descalabro,

Mas não vão ser as esporas

Que trarão aprendizado

E se hoje isso te empolga

Amanhã és o cavalo

 

Não vamos esquecer

Daquele que não nos esquece

O seu nome é MP

Está sempre contra as greves

Mas quer ver desaparecer?

É só falar FUNDEB

 

Quanto ao promotor carola

Que pro Nordeste fez viagem

Pra debater violência na escola

Recebendo diária e passagem

Onde está o MP agora?

Mais dinâmica é sacanagem!

 

E não é que direções

Que aceitam a militarização

Não pensam em soluções

Terceirizam a educação

E são baixas suas menções

Quando o assunto é prestação

 

Se lhe falta competência

Senso de coletivismo

Deixe à prova esta contenta

Ponha a sua conta em risco

Por que veio se não aguenta?

Era só pelo carguismo?

 

Mas se insiste a direção

Pra escola ser militarizada

Coerência é uma lição:

Peça pra ser exonerada

E o plano da eleição

Deixe ao lado da privada

 

Uma coisa é certeza

Não se pode contestar

A criminalização da pobreza

Só tende a piorar

Mais escolas e menos cadeias

É pelo que devemos lutar

 

Me despeço do poema

Desejando mais amor

Não quero fazer dilema

Tampouco prego a dor

Pois sou professor da gema

E não apoio ditador

Sobre ayanrafael

Pedagogo, Assistente Social e Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. Trabalhou como técnico-administrativo na Universidade de Brasília, como Professor de Atividades da SEEDF (Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal) e atualmente é Especialista Socioeducativo - Pedagogo na Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do Distrito Federal, lotado no Centro Integrado 18 de Maio.
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