Leia a paródia do texto O lixo de Luís Fernando Veríssimo, baseado na conjuntura nacional atual.
Texto original em:
O lixo – Luis Fernando Veríssimo
O lixo
Encontraram-se no Palácio do Planalto. Cada um com o seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
– Bom dia…
– Bom dia.
– A senhora é do 13.
– E o senhor do 15.
– É.
– Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente…
– Pois é…
– Desculpe a indiscrição, mas tenho visto o seu lixo…
– O meu quê?
– O seu lixo.
– Ah…
– Reparei que é muito. Sua família deve ser enorme…
– Na verdade somos sim.
– Mmm. Notei também que o senhor usa muito revólver e bala.
– É que a Bancada da Bala é minha amiga. E como não sei atirar…
– Entendo…
– A senhora também…
– Me chame de você.
– Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Soja, coisas assim…
– É que tem muita gente pra agradar. Latifundiários diferentes. Mas, como não estou sozinha, às vezes sobra…
– A senhora… Você não tem aliados?
– Tenho, mas não no 13.
– No 11.
– Como é que você sabe?
– Vi uns envelopes em seu lixo. Lei antiterrorismo.
– É. Maluf escreve toda semana.
– Ele é fisiologista?
– Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
– Ele não gosta de trabalhar. Achei que fosse fisiologista.
– O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
– Pois é…
– No outro dia tinha uma carta amassada.
– É.
– Más notícias?
– Sarney. Não morreu.
– Sinto muito.
– Ele já está bem velhinho. Lá no Maranhão. Há tempos não nos víamos.
– Foi por isso que voltou a falar com o Jucá?
– Como é que você sabe?
– De um dia para o outro começaram a aparecer pedidos de cargos no seu lixo.
– É verdade. Não consegui segurar o Kassab e Kátia Abreu dessa vez.
– Eu, graças a Deus, nunca nomeei.
– Não sei. Mas tenho visto uns atos de nomeação em seu lixo…
– Blindagem errante. Foi o Lula. Não passou.
– Você brigou com os pastores, certo?
– Isso você também descobriu no lixo?
– Primeiro a Comissão de Direitos Humanos, com a pauta LGBT, jogados fora. Depois muito espaço ao Feliciano.
– É, briguei bastante, mas já passou.
– Mais ainda tem uns Paulinhos…
– É que o PL 257 é minha vida.
– Ah.
– Vejo muitos extratos estrangeiros em seu lixo.
– É. Sim. Bem. O Cunha deu o endereço da minha casa. Sabe como é.
– Da Suíça?
– Não.
– Mas há uns dias tinha um extrato da Suíça em seu lixo. Até longo.
– Eu estava vendo um cruzeiro para a África. Coisa antiga.
– Você rasgou o extrato. Isso significa que, você pode estar tramando um golpe.
– Você está analisando meu lixo!
– Não posso negar que seu lixo me interessou.
– Engraçado. Quando examinei seu lixo, decidi que queria conhecê-la. Acho que foi a Carta ao Povo Brasileiro.
– Não! Você leu a Carta ao Povo Brasileiro?
– Vi e escrevi a Ponte para o Futuro.
– Mas são muito ruins!
– Se você achasse ruim mesmo, teria rasgado. Ela só estava reformulada.
– Se eu soubesse que você ia ler…
– Só não fiquei com ela porque, afinal, estaria roubando. Se bem que não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
– Acho que não. Lixo é domínio público igual plano de governo.
– Você tem razão. Através do plano de governo, o público se torna particular. O que sobra após pagar o superávit primário vai pra nossa cueca. O plano é comunitário. É nossa parte mais capital. Será isso?
– Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que…
– Ontem no seu lixo…
– O quê
– Me enganei, ou era lista de deputados a favor do impeachment?
– Acertou. Comprei uns deputados graúdos e me salvei.
– Eu adoro deputado corrupto.
– Me salvei, mas ainda não venci. Quem sabe a gente pode…
– Governar juntos?
– É.
– Não, já tenho meus aliados.
– Carlos Marun.
– E você vai ficar sozinha?
– Nada. Num instante o Moro grampeia todo mundo e deixa os tucanos de fora.
– O Delcídio ou o Dirceu?