Educação ambiental para além da escola

Rua 12, em frente ao condomínio 153. Foto de 06/11/2020.

Artigo de opinião originalmente publicado em Conversa Informal, jornal comunitário do Setor Habitacional Vicente Pires, Região Administrativa XXX do Distrito Federal. Ano 18, n. 01/2021. Disponível em: <https://jornalconversainformal.blogspot.com/2021/01/jornal-conversa-informal-de-janeiro-de.html>. Acesso em: 04 dez. 2021.

Escolhi o tema desse texto em 06/11/2020 ao fotografar obras do GDF na rua 12. Era uma escavação com um cinturão de lixo a partir de 3 metros da superfície, confirmando o que é um dos impeditivos para a regularização de Vicente Pires: um lixão subterrâneo! Deixemos a questão fundiária para textos do Gilberto Camargos e Geraldo Oliveira para entender o seguinte: meio ambiente não é só flora e fauna. Formar essa concepção não é tarefa fácil, pois até hoje meio ambiente é visto como sinônimo de natureza. Abordar aspectos da educação ambiental no cotidiano de crianças e jovens têm efeito formador maior do que apenas mostrar Cascão e Cebolinha jogando lixo no chão.

O lixo não some do planeta quando os garis o recolhem da frente de nossos condomínios. Por décadas o lixo do DF era despejado em Vicente Pires: poluição do solo e da água. Hoje somos uma região administrativa e os locais em que materiais descartados eram aterrados deram lugar à casas e prédios com quitinetes. Estes prédios são um problema ambiental para um bairro com saneamento básico e largura das vias públicas despreparados para tamanha pressão demográfica.

Um destes prédios fica num condomínio com um morador que todo fim de semana faz festas com som automotivo, sendo que algumas frequências têm tanta potência que além de importunar pelo barulho fazem disparar o alarme de automóveis no local: poluição sonora! Uma solução seria chamar a polícia, amarrar o cidadão e colocar um fone de ouvido com Cauby Peixoto tocando 10 horas seguidas no volume máximo, mas o problema de base é até clichê: falta de educação (ambiental).

Perto dali há uma loja de informática que descarta chumbo, bário, mercúrio, níquel, manganês e outros metais pesados presentes em eletrônicos no lixo comum. Em tempo: nosso bairro não tem ponto de coleta adequado para esses materiais.

Esta loja de informática fica perto da saída do pistão norte com a Estrutural em que dia desses houve uma colisão de carros causada pela falta de visibilidade por causa de faixas na rotatória: poluição visual. É o mesmo tipo de poluição causada por uma estrutura de madeira próxima à Feira do Produtor e que há mais de um ano prejudica o trânsito no local.

A Feira do Produtor não tem política de coleta seletiva ou reaproveitamento de alimentos para doação à entidades da sociedade civil como instituições de longa permanência, por exemplo. Cada comerciante deve agir por si enquanto as administrações da Feira e da cidade se limitam a cobrar aluguéis e lavar banheiros. Em 2006, ainda discente de graduação da UnB, apresentei à administração da Feira uma proposta de atividades culturais no local que atraísse moradores e permitisse que se conhecessem. Não se interessaram pelo projeto e a Feira do Produtor continua má administrada, sem comunicação institucional ou atrativos que a façam um espaço de encontro dos moradores como em qualquer lugar do mundo. Em outras palavras: um meio ambiente sem diálogo.

Portanto, o meio ambiente não é somente o pantanal ou amazônia pegando fogo. Alterações no meio ambiente mais próximo de nós, como o de nosso bairro, também têm consequências. É papel da escola, mas também da família e da sociedade apontar para si e para as futuras gerações que a educação ambiental se faz nas ações cotidianas: relacionamento com vizinhos, igreja, trabalho, faculdade, escola e o que fazemos diante do material que consumimos. Uma criança do século XX descartava muito menos plástico, papel, vidro e metal do que uma criança do século XXI. O consumismo desenfreado e o direito à cidade no modo de produção capitalista devem ser eixos do debate da educação ambiental na atualidade. Não se trata de proibir atividades comerciais ou festas e sim regulamentá-las para que as regras sejam fiscalizadas por sociedade civil e GDF. Temos um plano de desenvolvimento sustentável para a cidade construído coletivamente por governo e sociedade civil? As escolas de Vicente Pires trabalham com o conceito mais amplo de meio ambiente? São perguntas da educação ambiental que norteiam qual futuro queremos não somente para nós, mas para os que ainda não nasceram. Se optarmos por ignorar essas questões como fizeram as pessoas há 50 anos, o lixo no subsolo, o vizinho barulhento e as faixas na rotatória continuarão a existir, só que com menos possibilidades de remanejamento do problema da frente de nossos olhos. Vicente Pires, local de descarte na década de 1970, tinha menos problemas ambientais naquela época do que tem agora. Trouxemos progresso ou regresso à região? Pensemos nisso!

Sobre ayanrafael

Pedagogo, Assistente Social e Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. Trabalhou como técnico-administrativo na Universidade de Brasília, como Professor de Atividades da SEEDF (Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal) e atualmente é Especialista Socioeducativo - Pedagogo na Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do Distrito Federal, lotado no Centro Integrado 18 de Maio.
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