
Artigo de opinião originalmente publicado em Conversa Informal, jornal comunitário da Região Administrativa XXX (Setor Habitacional Vicente Pires) do Distrito Federal. Ano 18, n. 12/2021, Dezembro de 2021, página 07. Disponível em: <https://jornalconversainformal.blogspot.com/2021/12/conversa-informal-de-dezembro-21.html>. Acesso em: 03 dez. 2021.
Ser empresário é otimizar constantemente o negócio. Vejamos algumas destas tarefas: a) ajustar preço da mercadoria/serviço para lucrar no capital de giro, à exceção de marcas consolidadas que podem cobrar mais caro; b) ampliar frente de capital, disponibilizando aos clientes produtos diversos na mesma localidade; c) manter um ambiente limpo, bem iluminado e com bom atendimento; d) remunerar bem os funcionários e capacitá-los periodicamente; e) compreender que o pós-venda é tão importante quanto a aquisição do produto.
Todas estas ações estão direta ou indiretamente ligadas a fidelização do cliente que passa a enxergar em determinada marca vantagens que extrapolam o desejo de obter determinado bem. Afinal, quem nunca deixou de comprar um objeto mais barato porque foi destratado pelo vendedor ou saiu de um restaurante quando percebeu que a cozinha estava suja? Empreender, portanto, é pensar não só no que se vende, mas como e para que se vende.
Contudo, há um tipo especial de cliente que sempre existiu e que somente no final do século XX passou a ter atenção significativa dos empresários: os pais! Quem tem filhos sabe a dificuldade que é encontrar com amigos para conversar num bar ou escolher o novo piso da cozinha enquanto é agarrado pela calça numa briga de irmãos. É verdade que o celular amenizou um pouco essa angústia, mas de outro lado deixou as crianças ainda mais dependente de eletrônicos. Foi aí que comerciantes enxergaram algumas características no perfil de clientes com filhos: têm mais idade, estabilidade financeira, exigentes e por razões óbvias menos tempo para comprar.
Quem frequenta restaurantes no Plano Piloto sabe que é comum que na parte de trás do comércio, virada para os blocos residenciais, comerciantes se juntem para construir parquinhos. Note que não é o parque da quadra e sim algo menor e próximo ao comércio, de modo que pais possam se divertir observando os filhos. Com o advento de restaurantes mais estruturados em shoppings ou áreas de condomínios horizontais (Vicente Pires) ou verticais (Águas Claras), a criação de brinquedotecas era apenas questão de tempo. Se antes ir com uma criança à um bar era visto como motivo para denúncia ao conselho tutelar, hoje as brinquedotecas oferecem segurança e diversão. E não adianta falar que bar não é local para crianças: as brinquedotecas são locais de socialização e as bebidas alcoólicas continuam proibidas para menores de 18 anos! Portanto, sem moralismos com pais que querem sair para confraternizar e não abrem mão de ter os filhos por perto.
E não são somente bares que devem investir em brinquedotecas. Imagine um casal que sai num sábado de manhã para fazer orçamento de uma reforma e vai precisar de tempo para escolher o papel de parede do quarto? Pois bem, é a brinquedoteca que vai permitir com que o atendimento seja feito da forma tranquila e os pais tenham a certeza de que os filhos estão confortáveis.
Outros comércios que aderiram às brinquedotecas foram as faculdades. A Universidade de Brasília é pioneira no Distrito Federal e em 2018 abriu um espaço de acolhimento para crianças enquanto os pais estão estudando. Imaginem se as instituições particulares disponibilizassem uma sala para o mesmo fim? Seria um convite para a matrícula de pais que não estudam por não terem com quem deixar os filhos, tudo isso com um investimento pífio. Fica a dica do benchmarking com responsabilidade social que vai além de colocar pessoas negras no outdoor dizendo “venha estudar conosco”, até porque são as que mais se beneficiariam com o espaço.
É claro que o tamanho da brinquedoteca depende do número de clientes que frequenta o ambiente simultaneamente, bem como do tempo que permanecem no local. Sendo assim, é comum que o espaço destinado à uma brinquedoteca em uma grande loja de material de construção ou sorveteria seja menor do que o de restaurantes ou faculdades. Não tem problema: ambas cumprem a mesma função.
Portanto, nem sempre precisa ser uma brinquedoteca enorme ou mesmo uma brinquedoteca. A sorveteria que coloca uma cama elástica ganha clientes que encontram uma forma de se refrescar e ver os filhos felizes. A oficina com uma TV com assinatura de streaming fideliza a mãe que foi fazer a revisão do carro e o filho fã de galinha pintadinha. A loja de roupa com uma mesa e desenhos para colorir garante que além da camisa o pai possa ter tempo de experimentar uma calça e levar as duas peças enquanto a filha pinta o sete.
Outra questão que agrega valor ao estabelecimento é ter banheiro família, com vasos sanitários e pias adaptados à altura das crianças, além de um fraldário. Assim, dependendo do espaço do comércio, haverá o banheiro de crianças adaptado no banheiro dos adultos ou o banheiro família, separado do banheiro dos adultos.
Essas medidas criam um ambiente que não afasta os atuais clientes, mas atrai aqueles que estavam em casa pensando com qual parente iriam deixar o filho para “dar uma passadinha pra comprar tal coisa” ou ficar a tarde jogando conversa fora e sendo os verdadeiros geradores de emprego e renda.
E você, já pensou em qual local vai fazer a brinquedoteca de sua empresa?