Você sabe quem foi Paulo Freire?

Legado de Paulo Freire é defendido por uns e odiado por outros - Revista  Galileu | Revista
Imagem: Revista Galileu – Globo.

Artigo de opinião originalmente publicado em Conversa Informal, jornal comunitário da Região Administrativa XXX (Setor Habitacional Vicente Pires), Ano 17, n. 11/2020, Novembro de 2020. Disponível em: <https://jornalconversainformal.blogspot.com/2020/11/jornal-conversa-informal-de-novembro.html>. Acesso em: 07 dez. 2020.

Paulo Reglus Neves Freire (Recife/PE, 1921-1997) é o brasileiro mais citado pelos principais pensadores do mundo, independente de ideologia. Filho de um capitão da polícia militar de Pernambuco e mãe do lar, chegou a passar fome após a depressão econômica de 1929. Formou-se em direito e fez uma opção política de vida ao militar pela educação, sobretudo a alfabetização de adultos, eixo de Pedagogia do Oprimido, sua obra clássica. Em 1963 na cidade de Angicos (RN), Freire alfabetizou quase 400 cortadores de cana em apenas 40 horas, tornando-se referência mundial no tema com a máxima de que “a leitura de mundo precede a leitura da palavra”. Essa experiência foi multiplicada no país até ser interrompida pelos militares em 1964, quando instituíram o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), fracasso completo.

Preso pelo governo militar, Freire foi exilado e lecionou no Chile, em países africanos e universidades de renome como Harvard e Cambridge. Atuante no socialismo cristão, buscou em Jesus Cristo exemplos da linguagem simples e do saber ouvir para falar com trabalhadores marginalizados, chegando a trabalhar no Conselho Mundial de Igrejas na Suíça. De olhar sereno, voz calma e uma inteligência ímpar, soube lidar até mesmo com os marxistas ortodoxos que viam com ressalvas sua aproximação com as igrejas. Atualmente, essa tendência cristã no país tem como expoentes Leonardo Boff com a Teologia da Libertação e o Movimento Evangélico Progressista (MEP), dentre outros.

Foi como secretário de educação de São Paulo (1989-1992), durante o governo de Luiza Erundina, que Freire criou o MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos). Teve importantes parceiros em sua militância pela educação brasileira: Ariano Suassuna, Francisco Brennand (que ilustrou as fichas de cultura de alfabetização), Moacir Gadotti, Darcy Ribeiro (criador da Universidade de Brasília) e mesmo liberais críticos à esquerda, como Anísio Teixeira. Freire jamais recuou de seus princípios para construir consensos baseados no que chamava de educação bancária, mas sua genialidade, carisma e perseverança eram admiradas por seus maiores opositores.

Diante de um currículo tão impecável, pergunta-se: por que a educação brasileira não consegue bons resultados em avaliações internacionais? Algumas respostas para essa pergunta.

A primeira delas é a de que você que lê esse texto sabe bem que seu filho jamais fez uma avaliação internacional que pudesse gerar, que seja, um resultado individual dele frente à outros estudantes, o que sequer existe. Portanto, falamos de estudos comparativos, feitos pelo Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e com resultados analisados de forma comparada ao PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). No Conversa Informal de outubro de 2020 falamos um pouco sobre Ideb. Não dá para culpar Freire por questões de metodologia de pesquisa.

A segunda questão é que estudantes brasileiros têm inúmeros problemas que afetam o rendimento escolar e nem a melhor escola pode superar isso. Estudante da escola particular assiste aula de “barriga cheia” e sem dor de dente. Não dá para culpar Freire por nossa pobreza secular.

Por fim, vale dizer que o método Paulo Freire não é um fertilizante que se aplica e se vê o resultado em curto tempo. Além das escolas brasileiras públicas e particulares seguirem o modelo cartesiano do século XVIII, o método de Freire era centrado na educação de adultos, ainda que os princípios de horizontalidade e construção coletiva possam e devam ser utilizados com crianças. Não dá para culpar Freire pelo nosso modelo escolar importado da I Revolução Industrial – ou até antes!

Como podemos ver, o problema da educação no país é bem mais sério do que culpar A ou B, ainda mais se esse culpado for um pensador respeitado em todo o mundo, da esquerda à direita, que dedicou sua vida à construção de uma educação libertadora. Paulo Freire é um patrimônio nacional, patrono da educação brasileira e deve ser sempre motivo de orgulho para todos nós. Apontar Freire pelo projeto de crise na educação do Brasil é abraçar os verdadeiros culpados por nosso atraso.

Caso queira saber mais sobre Paulo Freire, acesse o Portal dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos, selecionando dados relativos ao Brasil ou ao seu estado: www.forumeja.org.br

Sobre ayanrafael

Pedagogo, Assistente Social e Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. Trabalhou como técnico-administrativo na Universidade de Brasília, como Professor de Atividades da SEEDF (Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal) e atualmente é Especialista Socioeducativo - Pedagogo na Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do Distrito Federal, lotado no Centro Integrado 18 de Maio.
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