Uma servidora da educação acaba de ser morta pelo marido no prédio da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal na manhã desta segunda-feira, 20 de maio, Dia da Pedagoga. Após matar a mulher, o marido se matou. O secretário de educação, Rafael Parente, confirmou as duas mortes e cancelou a Caravana da Educação na regional do Núcleo Bandeirante.
O Distrito Federal é campeão em feminicídios no país. Outro dado que chama a atenção é a frequência com que homens retiram a própria vida após matarem suas ex-companheiras. Isso faz com que políticas como o endurecimento de pena para praticantes deste tipo de crime sejam tão eficientes quanto ameaçar um membro do Estado Islâmico de ser preso em Guantánamo. É claro que medidas protetivas que restringem a convivência do agressor e vítima em espaços físicos próximos colabora em casos menos graves, mas o fato é que continuamos a ter mortes de mulheres das formas mais covardes possíveis.
Claramente não é hora para tergiversar e dizer que é necessário militarizar a sede da Secretaria de Educação ou os locais onde trabalham os companheiros das professoras. Contudo, precisamos de uma mudança de cultura de uma geração e isso só se faz através da educação, da escola, do currículo integrado à prática de atividades cotidianas de crianças e adolescentes. Mas não é só: a escola não é uma bolha isolada do mundo, então a atual geração de adultos deve dar a sua contribuição, exigindo que o debate de direitos humanos seja levado para televisão, jogos digitais, missas, cultos e sobretudo dentro de casa.
O momento atual de exaltação da virilidade, de “menina veste rosa e menino veste azul”, da ode ao obscurantismo e outras posturas bizarras revela catalisadores de ações que vão ao encontro de ações feminicidas. A liberação da posse e porte de armas é mais um elemento que coloca as mulheres em situação de risco, uma vez que diminui suas chances de defesa. A cultura patriarcal de um país colonizado por 4 séculos e com mentalidade escravocrata que acha que o espaço do homem é o público e o da mulher é o privado nos coloca diante de uma certeza amarga: não será este o último feminicídio no Brasil.
Nós, docentes da educação básica, somos uma classe majoritariamente feminina. Se um homem pode entrar na sede da Secretaria de Educação e matar a atual companheira, qual segurança têm as milhares de professoras que estão em escolas e possuem maridos não menos violentos? Quem será a próxima e com quais consequências? Teremos estudantes atingidos?
Voltando ao debate das possíveis soluções do problema, o respeito às mulheres deve ser um componente curricular transversal e interdisciplinar desde os anos iniciais. Salto importante foi dado com as próprias empresas, do protetor solar às cervejarias, deixarem de direcionar suas propagandas à visão da mulher como produto a ser consumido. Outro ponto positivo foi a aprovação pela CLDF do PL 233/2019 de iniciativa do Deputado Distrital Fábio Felix (PSOL), tornando obrigatório o debate da Lei Maria da Penha nas escolas do DF. Tivéssemos adiantado esse esforço, vidas como a da servidora e de muitas outras mulheres teriam sido poupadas.