Que a eleição do Sinpro/DF é um jogo de cartas marcadas todo mundo já sabe. Porém, isso não nos impede de rir da própria tragédia, como nos ensinaram os gregos. Poderíamos escolher várias aspectos para criticar o processo eleitoral do Sinpro, mas aqui elenco apenas um: o tempo! Ah, o tempo… este que é imperativo à todos, como disse Carmen Lúcia à Gilmar Mendes que queria dar um de seus discursos de 4 horas para votar algo simples.
No último dia 08 de maio passou em minha escola uma representante do Sinpro para, segundo ela, fazer duas atividades: mobilizar para o ato do 15 de maio e, pasmem, fazer propaganda da Chapa 1! Primeiro detalhe que faz a diferença: ela disse que é da atual diretoria do Sinpro. Ora, se estamos em processo eletivo, certo é que não há diretoria e sim uma Comissão Eleitoral que assume as funções da diretoria até que seja concluída a eleição. É óbvio que a Chapa 1 usa toda a estrutura da CUT, CNTE, PT, PC do B e do próprio Sinpro para a eleição de um dos maiores sindicatos da América Latina, mas também não pode escrachar, vá lá. Quando perguntei se ela estava lá como Chapa 1 ou como Diretoria do Sinpro, gaguejou tanto para me explicar que parecia o coronel Flagra tentando justificar o uso de uma servidora da Câmara dos Deputados como empregada em sua residência.
Pois imaginem vocês que enquanto colegas professores(as) da Chapa 3 – única chapa de oposição nesta campanha – têm que se desdobrar entre o tempo de trabalho e, quando dá, passar nas escolas e apresentar seu programa, a Chapa 1 tem todo o tempo do mundo para fazer campanha. Para elucidar ainda mais com um exemplo prático: perguntei à esta diretora do Sinpro o que ela tinha feito de manhã e ela me respondeu que tinha passado em muitas escolas e que ela se desloca a pé. Respondi que eu tinha que ficar na escola em meu horário de coordenação, mas gostaria de fazer campanha para a Chapa 3. Continuando, perguntei o que ela faria a tarde e ela encheu a boca para falar que tinha que passar nas escolas da QNJ de Taguatinga. De minha parte, respondi que tinha 29 estudantes (até então, porque não há limites para lotação de sala na SEEDF) e que novamente a Chapa 1 estaria na rua fazendo campanha enquanto colegas que defendem a Chapa 3 estariam, vejam só o “absurdo”, trabalhando.
Em geral funciona assim: o Sinpro não pode dar nenhum incentivo fiscal ou de pessoal à nenhuma chapa, a menos que ofereça o mesmo às outras. Porém, o Sinpro é filiado à CUT e contribui mensalmente para esta central sindical e ela pode ajudar quem bem lhe entender. É como uma lavagem de dinheiro no quintal de casa, burlando as regras que visam deixar o processo um pouco mais democrático para tornar esmagadora a vitória da burocracia sindical – expressão pra não dizer que não falei da Chapa 2 nesse texto, os laranjas do PCO. Logo, não bastasse o tempo livre que acompanha a Chapa 3 em todas as suas visitas às escolas, soma-se à isso a marmita, o deslocamento, o adesivo, o jornalzinho, tudo pago com o dinheiro dos(as) professores(as), quer dizer, da CUT. Depois reclamam quando cada vez mais docentes se desfiliam do sindicato, por mais que esta atitude aprofunde nossa fraqueza frente ao governador Ibaneis.
E pensar que eu nem iria falar nada, nem quis participar nominalmente da chapa esse ano por completa desilusão com o sindicato e o sectarismo da esquerda. O que me levou a indagar a diretora do Sinpro foi o fato dela chegar na sala dos professores gritando que tinham arrancado cartazes da Chapa 1 e outros sobre a Reforma da Previdência. Grande parte dos(as) docentes da minha escola sabem que eu apoio a Chapa 3, até porque enviei no grupo de Whats App dos(as) docentes o pouco que a Chapa 3 produziu de material de campanha – não tempos especialistas pagos para isso. Porém, por mais injusto que seja este e todos os outros processos de eleição do Sinpro, jamais rasguei cartaz algum, nem mesmo o do PCO da campanha passada que, também pago pela CUT, era somente um ataque à chapa de oposição, acariciando a chapa da situação. Tampouco tiraria um cartaz que mobiliza a classe contra a Reforma da Previdência, uma pauta nacional e que é um dos consensos entre docentes.
A postura da diretora do Sinpro ao visitar a escola levava as pessoas a crerem que seria eu o responsável e por isso resolvi pedir que uma colega da direção perguntasse se foram os diretores que tiraram porque não aguentava mais aquela gritaria vindo de alguém da Chapa 1, que pode reclamar de tudo, menos de desonestidade por parte da concorrente. Depois do início da confusão, a situação normalizou e pude ter uma conversa muito respeitosa com esta diretora,que inclusive calculou meu tempo de aposentadoria, para meu completo desespero. Fosse ela unicamente com este objetivo e soubesse que não é pra mim que a CUT ou direção do Sinpro deve mirar sua raiva, a conversa teria sido melhor, ainda que permanecesse a injustiça de ter uma chapa usando todo o tempo do mundo para fazer campanha enquanto a outra trabalha.
Portanto, colega professor(a), quando for alguém da Chapa 1 fazer propaganda em sua escola, pergunte se eles dão aula e em qual horário. A maioria leciona ou é orientador no período noturno, quando a maior parte das escolas do DF não funciona – e praticamente o que sobra para a Chapa 3 fazer campanha quando não está em seu horário de trabalho, com a diferença de não ter pagos marmita, verba de deslocamento, adesivo ou jornalzinho. Chega a ser asqueroso um diretor vir dizer “eu tô lá na escola tal 20 horas”, quando nós mortais pegamos até abono para poder minimamente correr de uma escola para outra.
Na época da eleição presidencial em 2018, os petistas reclamaram muito de Lula não poder fazer campanha porque estava preso. Pois bem, saibam que é assim que a Chapa 3, de oposição à diretoria do Sinpro, se sente nas eleições. Que tal fazer uma campanha #Chapa3Livre ?
A Comissão Eleitoral cuida tão e somente dos encaminhamentos da realização do processo eleitoral. A Diretoria não é destituída e seu trabalho continua. Bem como o acompanhamento do Sindicato aos professores.
A respeito das liberações para campanha, a Comisso Eleitoral orientou ao Sindicato que solicitasse a liberação de todos candidatos e todas candidatas inscritos nas três Chapas.
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