Crônica crônica: 10 mandamentos para tornar o Caldas Country Melhor!

Já há algum tempo tenho pensado em escrever sobre isso, sobre a bagunça generalizada que se tornou o Caldas Country, onde tudo parece um sonho: se morrer vai acordar e está tudo bem, se for preso vai acordar e está tudo bem, se brigar vai acordar e está tudo bem. Enfim, está sempre tudo bem, porque aquilo ali é um sonho para muitos, ou um pesadelo, porque não é possível tanta loucura, pra não dizer crime, sem que nada seja feito.

É claro que aqui temos uma separação entre o que é o Caldas Country, um evento que ocorre em local fechado e com ingressos de valor elevado, e o que ocorre do lado de fora, que a produção do evento diz não ser culpada. Seja o que for, o fato é que quando se fala Caldas Country hoje, é também fora do cercadinho onde está a vodka com energético. Pra quem não sabe, o Ministério Público de Goiás já estuda acabar com a farra em 2013, proibindo a venda de ingressos.

Lembro que meus pais compraram um chalé em Caldas Novas por volta de 1995. Ao falar das baixarias que ocorrem na cidade no grupo da Universidade de Brasília no Facebook, um jovem chegou a dizer “é só eles não irem pra lá no Caldas Country”. Então agora é assim, tem que escolher a data que a cidade não estará tomada pelos vagabundos para que um casal de idosos possa viajar pra lá. Do contrário, serão desrespeitados. Quem manda escolher o feriado pra viajar, não é mesmo? No Caldas Country de 2010, único que fui, na hora de sair da cidade alguns “espertos” quiseram me cortar pelo acostamento, criando uma espécie de “quarta faixa”, a faixa dos que merecem chegar na frente dos que saíram mais cedo. Coloquei meu carro nas duas faixas e não deixei ninguém passar. Fui ameaçado várias vezes e nenhum policial apareceu, mas quando é pra cobrar os valores cada vez mais abusivos de IPVA que não geram retorno algum pra população, os arautos da lei estão sempre por perto e não deixam escapar ninguém.

Entre a desordem ocorrida na cidade, há sexo explícito na calçada, jovens que atearam fogo em um carro, veículos que foram destruídos, uma galera muito “sussa” que colocou tijolos e fez churrasco no meio (bem no meio) da rua, uma ambulância invadida e até o posto da PM que foi tombado patrimônio da selvageria pelos bebuns. Quem dera estivéssemos numa revolução socialista e o posto fosse tomado para cumprir as funções de guarda comunitária! E quem ganha com Caldas Country? Quanto a prefeitura arrecada de impostos e quanto vale uma criança ir à padaria pra comprar pão e se deparar com um carro pegando fogo porque na cidade tudo pode? Será que o dinheiro compra a dignidade dos moradores de Caldas Novas e dos turistas que vão para a cidade esperando confraternizar e se vêem em meio à barbárie?

Você que agora lê esse texto, não sabe se na sua vizinhança estão fazendo churrasco ou transando, pois é algo que ocorre dentro de cada casa, sem atrapalhar ninguém. Existem coisas que são do espaço privado e torná-la pública não é outra coisa senão uma afronta não à lei, mas ao bom convívio em sociedade. Então, será que a solução seria acabar com o Caldas Country ou melhorá-lo? Estou certo que podemos acabar com a canalhice na cidade e para isso existem algumas medidas simples:

  1. Quando pegar pessoas transando na rua, bater com o cacetete com força na cabeça, para sangrar, como um alerta, para que se perceba que Homo sapiens e Canis lupus familiaris não são a mesma espécie. Depois disso, até no quarto de motel o cara vai pensar duas vezes se está num local público antes de mandar sangue pra deixar o pênis ereto.
  2. Quando um bombado parar o carro na via, descer e começar a dançar arrocha, um fuzileiro naval contratado especialmente para o Caldas Country dará uma voadora no imbecil, derrubando-o e fazendo uma chupeta ligando o indicador direito no pólo positivo e o indicador esquerdo no pólo negativo. Ah sim, para a corrente elétrica, o fuzileiro utilizará um teaser, aquela arma que dá choque.
  3. Quando invadirem uma ambulância, o BOPE, que é bom pra dar porrada em estudante que protesta contra corrupto, vai enfim cumprir uma ação social e levar os delinqüentes pra cadeia. Só irão sair depois de construírem 1.000 macas e 10 hospitais cada um.
  4. Quando chegarem com som alto nos chalés, querendo que você ouça arrocha, serão detidos por poluição sonora e só sairão da cadeia após fazerem 1.000 instrumentos musicais para a escola de música de Goiás.
  5. Quando um grupo de covardes chutar alguém no chão até que a pessoa desmaie, ela será amarrada e jogada à 50 jardas de um gol num campo de futebol americano. Só irá ser desamarrada depois que todos do time deram um chute ou quando o placar marcar 5 gols.
  6. Quando um machista quiser brigar pra beijar uma mulher à força, xingando a garota de piranha, será mergulhado num tanque com minhocas amarradas ao corpo, e só irá sair depois de escolher qual piranha quer beijar.
  7. Quando pularem num carro parado ou em cima de um posto policial, será lhes dado um pogobol para que tente sossegar o facho, pulando por pelo menos 24 horas. Quem cair sobe e tenta de novo, até conseguir pular 24 horas seguidas.
  8. Quando fizerem churrasco no meio da rua ou buzinar próximo à hospitais, ficarão durante todo o mês de agosto em frente a Pracinha de Caldas Novas, descalços, enquanto houver luz do sol, com direito à um copo d´água de 200 ml, pedindo dinheiro, que ao invés de ir pra outra bebedeira irá para uma instituição de caridade.
  9. Quando tentar passar pelo acostamento ou estacionar em vaga de idoso ou pessoa com necessidade especial, vai pra cadeia e só sairá depois que fizer 1.000 cadeiras de rodas e construir 10 escolas, para evitar uma futura geração de mal educados como eles.
  10. Quando urinar na piscina, um sistema de tecnologia irá disparar uma sirene e um holofote será jogado em cima do porco humano. Automaticamente as pessoas sairão do local para que o mijão lave todas as piscinas do clube, sendo permitida a sua entrada somente de fraldas.

Pronto. Dessa forma teremos um Caldas Country bem melhor, alegre, divertido, em que poderemos levar nossos amigos sem saber que vamos ser empurrados por conta de brigas de vândalos. E essas regras valem tanto para o espaço se dentro do show como para fora, pra que empresários que só pensam no próprio bolso não queiram tirar a responsabilidade de si. O que temos que ter claro é que medida social existe e muitas vezes dá certo para o cara que mata porque foi roubar um tênis, pra crianças aliciadas pelo tráfico, pra adolescentes que roubam comida em supermercado pra alimentar o irmão doente, pra jovens carentes em conflito com a lei por causa do vício de crack. Pra playboy bêbado, os pontos acima estão até insuficientes, e tenho certeza que a população de Caldas Novas trocaria todo esse “investimento” em sacanagem por um bom sossego no feriado do 15 de novembro.

Quem lucrou mesmo com o Caldas Novas foram os donos de hotéis, as cervejarias, os produtores de shows, as bandas que se apresentaram e as doenças sexualmente transmissíveis. Para os trabalhadores, pros honestos, sobrou uma montanha de papel não reciclável, cacos de vidro, muros urinados, brigas de bêbados, assassinatos e a possibilidade de uma criança ir visitar um amigo e ver dois imbecis transando encostados num carro, achando que o mundo não iria acabar dia 21 de dezembro mas sim naquele minuto – o que também não justificaria. Provavelmente o “inteligente” que falou no grupo da UnB que idosos não podem ir à Caldas na data do evento, vai dizer que as crianças também não. Poderia se abandonar a cidade durante o Caldas Country e a partir daí todo mundo que entrasse assinaria um termo de livre consentimento para ter ânus e carro violados.

Bem gente, é claro que aqui há alguns fatos que ocorreram no Caldas Country 2012, mas que vem se repetindo todos os anos. Nenhum dos atos citados nos 10 mandamentos foi inventado, mas sim as penas para cada um deles. Certamente o Ministério Público de Goiás irá agir para que os abusos não sejam cometidos em 2013, e tomara que a polícia seja eficiente nisso, porque pra bater em sem-terra eles estão sempre dispostos. Nenhuma medida que tomarem irá impedir o trânsito caótico, a falta de dinheiro nos caixas eletrônicos ou a inflação nos preços dos shows, que também é um problema para uma população que recebe salafrários de todo canto do país e sequer podem desfrutar do espetáculo. Acho que eles se sentem como nós brasilienses quando dizem que aqui só tem corrupto, um insulto à nossa cidade, como o Caldas Country está sendo um insulto aos moradores de Caldas Novas. Porém, é preciso que se tomem atitudes drásticas em relação aos criminosos que fazem da cidade uma terra sem regras.

Eu adoro festa, é difícil achar alguém que não goste. Não é para acabar com a festa, mas com os excessos que fazem da festa um antro de baderneiros. Quando começarem a prender, acaba a sensação de impunidade. Não serão as medidas acima porque elas sequer existem como efeito de interpretação da lei, mas que bom seria se fossem aplicadas pelo menos para quem quer compartilhar Gustavo Lima em via pública, não acham?

Sobre ayanrafael

Pedagogo, Assistente Social e Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. Trabalhou como técnico-administrativo na Universidade de Brasília, como Professor de Atividades da SEEDF (Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal) e atualmente é Especialista Socioeducativo - Pedagogo na Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do Distrito Federal, lotado no Centro Integrado 18 de Maio.
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3 respostas para Crônica crônica: 10 mandamentos para tornar o Caldas Country Melhor!

  1. Taisa Ferreira disse:

    Bom não conheço a festa nem a cidade, mas o caminho certamente para resolução da serie de problemas perpassa por uma maior organização dos orgãos públicos da cidade no direcionamento e enquadramento das pessoas claro a luz do que é legal…alguns dos 10 pontos são dificeis de rolar… mas gostei do 3.6.8.9.10 , rsrsrs!

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  2. Luana Ayan disse:

    Amei Rafa! Concordo com vc!

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  3. Cleyton Caminha disse:

    Mano, este caso é de indignar qualquer pessoa de bem e sã que preza por valores construtivos de uma sociedade. Este fato lembra muito uma “festa” que acontece em Igarapé-açu, interior do estado do Pará, chamada “festa da cerveja”, onde aparecem milhares de pessoas totalmente dispostas a impor o terror na cidade. Os moradores se trancam e o caos acontece. Todos os anos são brigas, mortes e crimes de toda espécie. Na mais violenta das versões desta festa, houve uma chuva de garrafas de vidro, na qual centenas, isso mesmo, centenas de pessoas saíram ensanguentadas. Um palco de uma batalha medieval em pleno século XXI. Muitos já tentaram acabar com esta tal festa, mas o grupo que a organiza é tão poderoso (economicamente e letalmente falando) que as pessoas sentem medo de fazer algo com receio de alguma represária, nem o próprio delegado da cidade conseguiu. É triste, mas estes são os tempos de uma sociedade decadente que caminha cada vez mais para a barbárie. Salve-se quem puder!

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